Por Reinaldo Polito
Faça isso. Não aja assim. Essa atitude está errada. Esse comportamento está incorreto. Não pode. Não deve. Não está certo. Não, não, não e não.
O que não falta é gente dizendo o que pode e o que não deve ser feito. São pessoas que cristalizam e impõem regras como se fossem dogmas.
Precisamos ficar atentos a esses conceitos engessados e tomar cuidado com as regras. Temos de desconfiar das cartilhas que os "especialistas" querem nos impor.
Às vezes nos tornamos presas fáceis dessas imposições autocráticas porque nos sentimos protegidos com a posse de algumas regrinhas. Com elas temos a sensação de que não correremos o risco de errar e a certeza de que assim não seremos criticados, o que nos dá mais confiança no momento de falar, especialmente diante de uma platéia.
Até aí tudo bem. Sentir segurança para falar em público é o que mais precisamos e desejamos na comunicação. Concluir, entretanto, que se essas regras não forem seguidas e adotadas sempre estará tudo errado é uma grave distorção.
Parece incrível, mas há pessoas que deixam de fazer curso comigo porque têm a noção equivocada de que se submeterão a um treinamento que lhes obrigará a agir dentro de padrões rígidos e determinados.
Não são poucos aqueles que no final do curso se surpreendem ao constatar que aprenderam a falar bem explorando apenas seu próprio potencial, preservando suas características. É comum confessarem que estavam totalmente enganados com suas idéias preconcebidas.
De vez em quando, um orador interrompe sua apresentação para dizer que seria censurado se o professor Polito estivesse na platéia porque está falando com a mão no bolso ou apoiado na tribuna.
E mesmo quando estou presente não apalpam. Dizem que eu devo estar me revirando na cadeira por causa do seu comportamento.
Até sei por que fazem esse tipo de comentário. Primeiro, porque alguns têm uma idéia embaçada do que seja o ensino da arte de falar bem nos dias de hoje. Depois, porque querem mostrar que não se submetem às regras e que são ótimos comunicadores mesmo sem terem recebido nenhum tipo de orientação.
O que esses oradores, provavelmente, não sabem é que há mais de 30 anos ensino os meus alunos a falar preservando exatamente esse comportamento natural e espontâneo. Se você ler o texto que publiquei aqui mesmo no UOL vai verificar que para mim a melhor de todas as técnicas da comunicação é a naturalidade.
A regra na comunicação verbal deve servir para ajudar, nunca para atrapalhar ou escravizar o orador. Garanto: se você tiver dificuldade para usar uma regra, ou ela não é boa, ou não é apropriada para o seu estilo. Regra boa é essa que você já traz com o que aprendeu ao longo da vida.
Portanto, falar de vez em quando com as mãos nos bolsos, ou com os braços nas costas, ou debruçado sobre a tribuna, desde que por pouco tempo, de maneira natural, sem demonstrar que se comporta assim por inibição, desconforto ou hesitação, não só não constitui erro, como pode ser uma atitude recomendável.
Outro exemplo conhecido é a censura que se faz ao uso do palavrão e da gíria. Falar palavrão ou usar gíria é uma atitude condenável na maioria das situações. Observe que eu disse "na maioria das situações", e não que seja condenável sempre. Você já deve ter visto pessoas transgredindo essa regra e mesmo assim encantando os ouvintes e conquistando sucesso.
Ao contar uma piada diante dos mais próximos, como amigos e familiares, o palavrão e a gíria poderão até fazer parte da boa comunicação. Dependendo da maneira como você se comporta, mesmo diante do público esse palavreado poderá não ser tomado como vulgar. Tudo dependerá do seu estilo, do seu charme e da circunstância que cerca sua apresentação.
Apenas para ajudar a refletir sobre o perigo das regras, vamos analisar o exemplo das apresentações com apoio de projetores. O manual do orador diz: não se deve passar na frente do aparelho de projeção.
É evidente que se você transitar muitas vezes na frente da projeção poderá prejudicar a concentração dos ouvintes. Entretanto, se você agir assim de vez em quando, não apenas não estará cometendo falha, como poderá ajudar a reconquistar a atenção da platéia.
Como o pensamento trabalha numa velocidade quatro vezes mais rápido que a capacidade de pronunciar as palavras, depois de alguns minutos, os ouvintes tendem a se distrair e desviar a atenção do orador. Ao passar na frente do aparelho de projeção, você poderá quebrar o foco de atenção que ficou viciado e recuperar a concentração do público.
Citei apenas alguns exemplos para que você possa pensar sobre a conveniência de seguir ou não determinadas regras que são repetidas à exaustão.
Observe os grandes oradores. Não existe nenhum igual ao outro. Eles não se submetem às mesmas regras. Tornaram-se extraordinários também porque conseguiram encontrar seu próprio estilo e ousaram contrariar algumas dessas imposições.
O responsável pelo sucesso ou fracasso da sua apresentação será sempre você mesmo. Por isso, só acate uma regra se concluir que ela será realmente útil. Se julgar que seguindo um caminho próprio terá melhor resultado, ainda que contrarie qualquer orientação recebida, assuma a responsabilidade e vá em frente.
Se ficar em dúvida sobre a conveniência de quebrar ou não uma regra, não hesite em me escrever. Terei prazer em ajudá-lo.
SUPERDICAS DA SEMANA
Aprenda todas as boas regras da comunicação
Abandone uma regra se julgar que assim terá melhor resultado
Adote apenas as regras que se adaptem ao seu estilo
Desconfie de todas as regras, mesmo daquelas já consagradas
Fonte: UOL Economia: Clicar.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
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