sábado, 8 de dezembro de 2007

A China no cotidiano

Por Daniel Lins

Para se adaptar ao ritmo de vida dos chineses, é importante saber que o dia começa cedo: dorme-se às 21h e acorda-se às 6h. O café da manhã é um "almoço": sopa de arroz e legumes, pão recheado com verduras, frango ou carne, macarrão aos molhos diversos, inúmeros pratinhos cozidos a vapor, chá à vontade, sobremesa, frutas etc.

Mas, os hotéis servem café da manhã à moda ocidental. O almoço é servido de 10 às 11h, pode-se, porém, ficar conversando até às 13h30. A jornada de trabalho vai de 6h30 às 17h30; o jantar é servido às 18 horas, em hotéis ou em família. Em Pequim, é difícil, afora os hotéis, encontrar um restaurante aberto após às 21h.

Pode-se observar, desde às 5 da manhã, chineses que dançam ou praticam, nos jardins ou esplanadas, o Tai Ji Quan, e muitos outros exercícios de arte marcial: é um espetáculo à parte. Começam sempre com ritmos lentos que acordam pouco a pouco os sentidos e permitem manter a boa forma física e mental. Todas as faixas etárias se misturam: é um movimento pleno, sem mestre nem palavra de ordem; é uma individualidade coletiva, como só os chineses conhecem... Em Pequim, idosos levam pássaros para passear nos jardins da cidade; penduram as gaiolas nas árvores, escutando-os cantar, enquanto dialogam com os amigos.

Embora as grandes cidades conheçam um imenso fluxo de carros, cujo uso é cada vez mais democratizado - é possível comprar um carro, tipo Gol, básico, por 8 mil reais -, muitos vão ao trabalho de bicicleta. Apesar dos 7 periféricos de Pequim, o engarrafamento é uma constante. Os táxis, a preços módicos, são também muito usados.

Para quem curte a vida noturna, repetimos: os chineses dormem cedo, sobretudo, no norte do país. Mas, se no norte as ruas são desertas, as cidades do sul são animadas, "modernas", uma juventude "dourada", muita gente bonita, casais de mãos dadas, aqui e ali beijinhos e abraços, é uma outra China, a China que muda a passos acelerados. A cidade de Guilan, de "apenas" 600 mil habitantes, paraíso de beleza e mistério, exuberante natureza cantada por escritores, pintores, poetas e andarilhos, atrai 10 milhões de turistas por ano. Vitrine de luxo e fantasia, grifes famosas, galerias de arte, eventos culturais, vida noturna intensa; reggae, rock, hip-hop, salsa, blues, jazz, bares e cafés por todos os lados, muita paquera, gente bonita, simpática, olhares sedutores que se entrecruzam num constante desfile de moda e libido liberada, Guilan é um paraíso habitado por deusas e anjos de carne e osso.

Infelizmente, porém, mesmo no sul, a língua é uma grande barreira: poucos falam inglês, sequer os raríssimos punks, travestis ou vendedores de haxixe.
A China, que usa atualmente um terço do cimento produzido no mundo, que se prepara para sediar os jogos olímpicos e atesta um crescimento de 10%; a China que atrai mascates do mundo inteiro, o último em data, Nicolas Sarkozy acaba de assinar contratos colossais de 28 bilhões de dólares, é antes de tudo um magnífico país cujas belezas e ousadia criativa desafiam muitos que por aqui passam.

Não existe um chinês, mas chineses. Povoado por um bilhão e trezentos milhões de habitantes, a China não conhece a idéia de univocidade, aqui a cultura se diz sempre no plural. Eis por que a noção de sujeito não faz parte de sua filosofia; o "Eu" é estranho, tanto à Filosofia de Lao Tse (VI a. J-C) quanto àquela de Confúcio (VI a. J-C). A univocidade é sempre multiplicidade, inclusive no pensamento de Confúcio, hoje cultuado, perseguido radicalmente pela «Revolução Cultural» de Mao Tse-tung. O retorno do recalcado emerge com a inauguração do Instituto Confúcio, em Pequim, 9 de abril, por Zhili Chen, conselheira do Estado.

Sombras no gigantismo chinês : os jogos olímpicos são uma vitrine, e a China quer um "meio ambiente jornalístico limpo". Pequim anunciou a criação de um banco de dados sobre 30 mil jornalistas estrangeiros, para os jogos de agosto 2008. Os 8 mil repórteres esportivos autorizados a entrar nos estádios foram fixados pelo Ministério da Imprensa e das Publicações. Interrogado sobre o assunto, o ministro respondeu: "Desconheço este banco de dados".

Duas pichações, em Pequim e Xangai: "Quanto mais leis, mais ladrões". Lao Tse. "Somos todos irmãos diante da natureza, mas estrangeiros pela educação". Confúcio.

Fonte: http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/750965.html

2 comentários:

Filipe disse...

Muito bom o artigo. É bem claro.

Filipe disse...

Muito bom o artigo. É bem claro.