sábado, 10 de novembro de 2007

Felicidade- dinheiro - Dalai - padre

Luiz Carlos Prates
11/11/2007

O Dalai e o padre


Esta semana entrevistei um padre. Não lhe digo o nome, não estou autorizado, ainda que o que ele tenha dito em nada configure novidade ou choque. Mas antes de dizer o que ouvi do padre, devo antes dizer o que diz o Dalai Lama sobre felicidade. Ando lendo muito o Dalai, ele não é nada do que muitos pensam, é um sujeito pé-no-chão, não se acha o tal, e até diz coisas bem prosaicas.

Ele não diz nada além do óbvio e do simples; aliás, parece que essa é a lei dos iluminados. Sim, sei, me alongo e não chego ao assunto, e a linha final já está logo ali. Já digo o que é. Diz o Dalai Lama que "o propósito da vida é a felicidade". Não é uma gracinha o Dalai? Se eu dissesse isso na porta da rodoviária me jogariam tomates, mas o diacho é que é assim mesmo, as verdades abissais da condição humana são tão simples quanto um espirro.

Mas se o propósito da vida é a felicidade e a felicidade depende de nós, e essa segunda frase já corre por minha conta, por que somos tão infelizes? Falo pela maioria. O sujeito casa com a Miss Mundo e no outro dia pela manhã boceja... Sai da cama como quem sai de uma reunião na empresa, com cara de nada. Por que é tão difícil ser feliz, se a felicidade depende de nós, insisto?

É aqui que entra a entrevista que fiz com o padre. Perguntei a ele se ele ouvia em confissão pessoas "bem de vida". Ele disse que sim. E por pessoas "bem de vida" quero dizer pessoas com dinheiro.

- Bom, já que o senhor ouve pessoas "bem de vida" em confissão, é comum que essas pessoas se queixem de infelicidades? perguntei.

- Sim, é o que mais ouço, respondeu-me o padre. Despeço-me aqui do Dalai Lama e do padre e fico com você, leitora, leitor. Por que diabos há tantas pessoas infelizes se elas têm, no mais das vezes, mais que o básico para serem felizes? Não sei, mas especulo. É que estamos vivendo, como nunca antes, pelos olhos dos outros.

É preciso que os outros pensem que estamos bem, que somos felizes, que nossa vida é uma tempestade de boas emoções. E como sabemos que mentimos, sofremos. Vemos os outros por fora e nós por dentro. Os outros mentem como mentimos, os outros não sabem de nós e sabem deles. É uma mentira coletiva.

E todos nos damos as mãos para a infelicidade grupal. Uma pessoa boa, fiel, honesta, asseada, trabalhadeira, que goste de cachorrinho vira-latas, mas que não tenha nada no banco é uma pobretona desprezada. Se for uma besta com dinheiro será admirada. Ficou difícil ser feliz na simplicidade. E sem simplicidade a felicidade é simplesmente impossível.


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